Se eu soubesse
escrevia-te um poema
das canções que o mar canta
quando em espumas de desejos
às rochas se entrelaça
e num beijo
ternamente as abraça,
ou quando ao murmurar
grita seu canto no fragor da onda
ao rebentar.
Se eu soubesse
e as palavras se soltassem,
dizia-te como vi os rios chorar
não sei se de ciúme se de dor
por verem que o mar
quando se unem
não lhes fala de amor.
Se eu soubesse
poderia falar-te
das arvores, das montanhas
ou das fontes
onde pela alvorada a água dança,
ou dos pássaros
que rompendo o azul do céu
com os seus cantos,
rasgam do silêncio o véu
dos gritos afogados nas gargantas.
Se eu soubesse
e as palavras me chegassem,
falava-te do cheiro
da terra molhada,
desse cheiro que embriaga,
ou das flores quando nascem
ou do nascer do sol pela madrugada.
Se eu soubesse
escrevia-te um poema
e se valor tivesse
por momentos que fosse,
falava-te do beijo com sabor a sal e mel
do mar, da areia, dos desejos
do olhar quente e doce
ou de qualquer sentimento com sabor a fel
nascido passo a passo
ou do meigo momento de ternura
dum abraço
mas falta-me o atrevimento da loucura
e não o faço.
Ah, se eu soubesse escrever
e colocar nas rimas que decoro
aquilo que soubesse dizer
ficava o mundo condensado no choro
duma criança ao nascer!