sábado, 29 de agosto de 2009

COLIBRI



Colibri
meu beija-flor,
procuro e não te encontro
vem apagar esta dor
deste encontro desencontro.
Colibri
meu beija-flor,
de saudades estou morrendo
vem apagar esta dor
que em meu peito está crescendo.
Colibri
meu beija-flor,
eu estou esperando por ti
vem apagar esta dor
vem depressa Colibri.
Colibri
meu beija-flor,
vem para junto de mim
eu estou morrendo de amor
vem depressa Colibri
vem apagar esta dor
Colibri
meu beija-flor
meu beija-flor
Colibri.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

A MENINA DO MATO



Menina do mato
pés sujos da terra da sua savana,
esquecida da guerra,
estendida no pano duma capulana
deitada na terra,
a menina do mato 
sonhava, sonhava.
O cheiro que a terra
e o verde capim
para o ar deitavam
pela alvorada,
aquele agridoce de terra molhada,
um cheiro manhoso
que embriagava,
um cheiro que o vento,
que o vento levava
para as flores lavar,
deixavam a menina  
na terra deitada, 
deitada a sonhar.
E de tanto sonhar
a menina do mato,
sonhando,
parecia voar.
Voava em tudo o que fosse
melro ou cotovia, java ou beija-flor
e do azul do céu
seu olhar sonhador,
nas asas do catuíti
sonhava o que havia
para além da estrada de terra batida
que passava ali.
Nas asas dos pássaros
que o céu cruzavam,
quando ela os olhava,
a menina do mato,
sonhando
voava, voava, voava.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

LAR DE IDOSOS



Aqui o tempo não corre
tão depressa
as horas são diferentes
sessenta minutos
bem contados os dias
são mais curtos
entre duas sestas dormidas
acordadas
e as cadeiras
são prisões de momento
encostadas à parede
as janelas são largas
mas a luz do sol é mais fria
e a espera de uma vida
que se apaga lentamente
é mais longa.
Aqui as horas são diferentes
e o tempo
não corre tão depressa.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O DESERTO




Poesia, alma poemas
palavras,
revoltas do pensamento.
Silêncio!
A solidão
da vastidão azul negra
do universo infinito.
Agua, fonte rio mar
terra, terra mais além,
areia, deserto. Só!
A imensidão
dum espaço aberto
onde a música é escrita
com os ruídos do silêncio
que nos cerca.
A música das palavras
composta
com os sons, apanhados no vento,
das letras dispersas
que passam por nós.
E o sol brilha.

sábado, 8 de agosto de 2009

RETRATO



Os teus olhos de veludo negro,
são frestas abertas na cortina da noite,
por onde espreita a luz da manhã.
O teu cabelo negro,
asa de corvo,
é a moldura do teu rosto moreno,
da cor da tarde.
O teu corpo dourado
é a linha ondulante da areia quente,
do deserto.
Tens dentro de ti
os mistérios insondáveis do infinito;
mas quando te olho,
assusta-me pensar que tudo isso
não sirva, somente,
para alcançar um contrato,
a tempo incerto,
numa dessas boutiques
desta nossa cidade.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

ALEPH



Eu sou a constante do vazio universo
Eu sou o principio do tudo e do nada
Eu sou o instante do verso e reverso
Eu sou o inicio e a obra acabada.
Eu sou o inverso e o que não sou
Sou de tudo escravo mas sou libertado
Sou do universo e nunca me dou
Eu estando preso estou em todo o lado.
Sou o que preenche todos os momentos
Sou o que passeia da partida ao fim
Estou entre a ideia e o pensamento
Sou o que começa e acaba em mim.
Eu estou para lá do próprio infinito
Eu sou o instável eu não tenho idade
Sou imensurável eu não sou finito
Eu sou o que há na eternidade.
Sou o próprio ser o sim e o não
E estando a reger todo o universo
Quererem condensar-me num só verso
É querer apagar a luz e a escuridão
Eu sou o abstrato vazio universo
Eu sou o Aleph sou a criação!