quinta-feira, 10 de setembro de 2009

AFRICAFOME



O amanhã era ontem
e os corpos das crianças,
inertes, flácidos,
onde o riso era ricto
e a fome
brinquedo para o estômago,
diziam-nos
calados,
o amanhã era ontem.
E nem o sol de África,
aquele sol escaldante
aquecia seus corpos
frios,
negros
na sua pele cinzenta
esticada pelos ossos
que lhe davam forma.
Seus olhos,
olhos de criança,
abertos,
excessivamente abertos
pela fome,
gritavam-nos
mudos,
acusativos,
Nós
somos o ontem de amanhã,
o presente sem futuro.
E lentamente se acabavam.
O amanhã era ontem

2 comentários:

mARa disse...

...consegues levar-nos a reflexão, sobre o amanhã, que desenha-se no ontem na fome, na fraqueza, nos casebres nas terras áridas...

vou guardar essa poesia para trabalhar as imagens que ela permite e analise social tbm.

[se puder mande-me teu e-mail - ladylayra@@hotmail.com]

ju rigoni disse...

Apraz-me saber que há poetas como você, a dirigir seu olhar sobre o que há de realmente importante neste mundo.

Tão forte e real quanto belo!

Bjs e inté!

Deixo a você um linque para outro de meus poemas:http://rigoni.wordpress.com/2007/08/19/colocando-a-panela-no-fogo-2/